Coluna quinzenal sobre temas filosóficos
Pietro Rutzen
A cada instante somos tocados pelo olhar de um misterioso e imparcial observador.
Ao dormir, temos a certeza de que algo continua. Temos também a impressão de que o tempo é linear.
O modo como vivemos compartimenta e otimiza o tempo, e incentiva que essa eficiência seja aprimorada.
Os gregos costumavam usar duas palavras para descrever o tempo:
O tempo Cronos, refere-se ao tempo que pode ser medido. Pelo calendário, pela rotina, pelo relógio. O tempo delimitado.
O tempo Kairós, é o tempo oportuno. O momento certo, qualitativo. Não podendo ser medido de maneira delimitante. É o tempo percebido no desabrochar de uma flor, ou de um grande amor. Este tempo é o que se percebe também nos momentos intensos, quando um segundo torna-se uma eternidade.
Ultimamente, o tempo Cronos me parecia escasso, ainda sim o ímpeto de expressar tamanha grandeza da visão antiga sobre o tempo fez com que o ato digitar nesse instante se tornasse pra mim a melhor expressão de Kairós.
A velocidade do mundo no ritmo de pensamentos, estímulos e reações parece ofuscar o tempo Kairós cada vez mais.
Saltando de um estímulo a outro, procurando gozo em finalmente terminar um dia para finalmente chegar ao final de semana para perseguir o quinto dia útil e ter a vida passando como um flash perante os olhos, deixamos de experienciar o tempo qualitativo.
Entregar-se com paixão ao que se faz, a leitura que te desperta e te instiga, a labuta diária da profissão, aos que lhe são queridos e também aos sonhos pode nos aproximar de Kairós com mais facilidade.
A grandeza de cada momento e do mais simples café da manhã em meio à rotina pode ser a mais profunda experiência. A autêntica vida dentro de cada um busca o tempo qualitativo. E hoje meramente perceber que ele existe já é um grande passo para viver melhor.
Como sempre, o equilíbrio parece ser o melhor dos caminhos.
Cronos e Kairós em uma dança sublime, e o palco somos nós.
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Sobre o autor
Meu nome é Pietro, sou estudante de Filosofia na UCS em Caxias do Sul. Trabalho também com tecnologia diariamente e encontro muita riqueza na intersecção entre as duas áreas. Para mim, a filosofia nos apresenta a possibilidade de moldar diferentes lentes para com as quais entender a realidade, trazendo também o poder de manter a mente disponível para novas ideias sem deixar de questionar e melhorar o mundo ao nosso redor.
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